Estranhamente não sou o João. Nem sei quem seja o João. Ou melhor, conheço o João mas não sei quem seja. É ainda recente na proximidade e o ser do João esconde-se numa exterioridade moldada por gestos. Por isso, o João da fotografia não é o João que eu conheço. Ainda por cima, hoje o Joãoé bem maior que o João espelhado na fotografia, tão grande que ele próprio não sabe onde ficou. Tal como eu, mas ainda é cedo para o revelar.
Perguntar-se-á porque é que o João é figura central do meu blog. Eu ainda não fiz essa pergunta mas terei de fazê-la um dia destes. O que faz um estranho no mundo de um ilhéu? Os ilhéus são desconfiados, ressentidos, não deixam que desconhecidos invadam os seus domínios. A razão é que as ilhas são tão pequenas que no espaço residual reservado para cada um não cabe lá mais ninguém…
Mas eu já não vivo na ilha, hoje a ilha sou eu. Vivi lá, tão juntinho ao mar que lhe chegava com a mão se a estendesse. Dez anos, tão ou mais longos que a vida, até que o mar se afastou e me deixou em prédios tão altos que não reconheço as pessoas que passam perto. Ando agora ao sabor das nuvens e não das ondas. Tão perdido que já não procuro encontrar-me. Afinal de contas o João sou eu e todos quantos se reconhecem numa lonjura, envoltos em histórias cheias de espuma.
E ao regressar fiquei por lá e cada vez mais tenho saudades de mim e daquele mar que às vezes me batia à porta e entrava tão calmo como os amigos íntimos. Agora, acomodo-me ao vazio tentando criar recantos que me recordam a minha ilha e aconcheguem a ilha em que me tornei.
E vai surgindo em pequenos instantes a alma que se perdeu por lá, nas letras que se vão juntando sem saber e assobio canções que o mar me ensinou.
2 comentários:
rgppkksTemos todos saudades de nós próprios...
"pinheirais onde a minha infância era outra coisa do que eu sou hoje..."
A. de Campos
Possamos encontrar um dia a razão da perda.
É claro que eu não disse tal e qual, isto é, aquela palavrinha ilegível do início, não respondo por ela...
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