A semelhança entre um “peru menor” e um “pormenor” é evidente: em ambos a escassez de realidade não lhes permite a autonomia. Enquanto o primeiro refere um indivíduo que ainda não atingiu a idade adulta, o segundo é um “por” insignificante, sem vida própria, e da qual não resulta qualquer relevância ao ser que menciona. Mas, se entre um peru-menor e um por-menor venha o diabo e escolha, pelo menos um peru jovem terá mais realidade do que um “por” em sistemática crise ontológica, pela simples razão de que tem em si mesmo, em potência, o ser maior do que já é.
Mas, como veremos mais adiante, uma diferença apenas aparente. Um peru garoto, ainda sem a qualificação necessária para ter voto em qualquer matéria, orienta-se pela palavra do peru velho que lhe dita as regras e da qual depende, e espera com a paciência de peru uma oportunidade para mostrar o que vale. A menoridade – que em termos kantianos não é mais do que o não utilizar convenientemente as capacidades racionais - dará lugar à maioridade, caso se verifiquem os habituais trâmites do crescimento. Assim, o tempo, se por si não garante o aperfeiçoamento dos seres, é o palco dessa libertação progressiva, do marasmo até à afirmação vigorosa da sua essência. Será nessa altura que o jovem peru encontrará uma perua que psicologicamente se adapte à sua personalidade, bela se possível mas não obrigatório, terá uma actividade profissional de forma a garantir a sobrevivência e a sanidade mental (pois o nada fazer contribui mais para as paranóias e depressões do que qualquer outro motivo) e oferecerá perus ao mundo, tornando-se em mais um elo na cadeia de vida e garantia do prolongamento da história dos perus.
Quanto ao “por-menor”, é uma minudência que nada adianta a uma história ou a um ser e em muitos casos infesta as histórias e os seres com enfeites e exterioridades que ofuscam aquilo que é verdadeiramente importante. São particularidades que – no caso de não estarem presentes – não fariam falta nenhuma ou pelo menos nada justifica o seu endeusamento
Mas a análise não pode ser tão simplista. Será que o peru, por ser menor, não pode revoltar-se contra a sujeição que o limita na sua especificidade e na originalidade enquanto indivíduo? Todos conhecemos perus que, apesar de menores, já colocaram sobre os ombros (curtos) o seu futuro, indivíduos que se libertaram das ameias paternas e sociais e partiram para longe da capoeira. Da mesma maneira, há pormenores que apesar da sua irrelevância ontológica se sobrepuseram e funcionam como pedras basilares da compreensão do ser que os sustenta. E é este sentido paradoxal do pormenor que se transforma em grande de perder de vista, que gostaria de deixar como reflexão. Como é possível que haja “pormenores” que se transformam em “pormaiores” por um acto de insurreição contra o fundamento de si mesmos?
Quando é evidente que socialmente o valor das pessoas depende da sua aparição nos meios de comunicação social; quando a cor da pele se transforma em razão de prestígio ou de ostracismo social; quando a harmonia das formas e a beleza são razões suficientes para transformar alguém num ícone; quando a militância num partido político significa portas abertas para carreiras técnicas; quando a relevância das pessoas advém daquilo que têm e dos títulos que ostentam; quando se sobrevaloriza a arrogância de carácter face à simplicidade de postura, então, sim, estamos perante revoltas de pormenores e ao transformarem-se em “pormaiores”, navega a realidade ao sabor de simples acessórios.
Mas, como veremos mais adiante, uma diferença apenas aparente. Um peru garoto, ainda sem a qualificação necessária para ter voto em qualquer matéria, orienta-se pela palavra do peru velho que lhe dita as regras e da qual depende, e espera com a paciência de peru uma oportunidade para mostrar o que vale. A menoridade – que em termos kantianos não é mais do que o não utilizar convenientemente as capacidades racionais - dará lugar à maioridade, caso se verifiquem os habituais trâmites do crescimento. Assim, o tempo, se por si não garante o aperfeiçoamento dos seres, é o palco dessa libertação progressiva, do marasmo até à afirmação vigorosa da sua essência. Será nessa altura que o jovem peru encontrará uma perua que psicologicamente se adapte à sua personalidade, bela se possível mas não obrigatório, terá uma actividade profissional de forma a garantir a sobrevivência e a sanidade mental (pois o nada fazer contribui mais para as paranóias e depressões do que qualquer outro motivo) e oferecerá perus ao mundo, tornando-se em mais um elo na cadeia de vida e garantia do prolongamento da história dos perus.
Quanto ao “por-menor”, é uma minudência que nada adianta a uma história ou a um ser e em muitos casos infesta as histórias e os seres com enfeites e exterioridades que ofuscam aquilo que é verdadeiramente importante. São particularidades que – no caso de não estarem presentes – não fariam falta nenhuma ou pelo menos nada justifica o seu endeusamento
Mas a análise não pode ser tão simplista. Será que o peru, por ser menor, não pode revoltar-se contra a sujeição que o limita na sua especificidade e na originalidade enquanto indivíduo? Todos conhecemos perus que, apesar de menores, já colocaram sobre os ombros (curtos) o seu futuro, indivíduos que se libertaram das ameias paternas e sociais e partiram para longe da capoeira. Da mesma maneira, há pormenores que apesar da sua irrelevância ontológica se sobrepuseram e funcionam como pedras basilares da compreensão do ser que os sustenta. E é este sentido paradoxal do pormenor que se transforma em grande de perder de vista, que gostaria de deixar como reflexão. Como é possível que haja “pormenores” que se transformam em “pormaiores” por um acto de insurreição contra o fundamento de si mesmos?
Quando é evidente que socialmente o valor das pessoas depende da sua aparição nos meios de comunicação social; quando a cor da pele se transforma em razão de prestígio ou de ostracismo social; quando a harmonia das formas e a beleza são razões suficientes para transformar alguém num ícone; quando a militância num partido político significa portas abertas para carreiras técnicas; quando a relevância das pessoas advém daquilo que têm e dos títulos que ostentam; quando se sobrevaloriza a arrogância de carácter face à simplicidade de postura, então, sim, estamos perante revoltas de pormenores e ao transformarem-se em “pormaiores”, navega a realidade ao sabor de simples acessórios.
9 comentários:
Yugs, daw nabasahan ko naman ni sa iban nga blog?
i'm also into those things. care to give some advice?
Yutarets! kasagad bah!
It could give you more facts.
Eu acho que prefiro o peru menor no meu prato!
Beijo*
Mais uma maravilha para ler...
com muitos "por-menores"! ;)
Beijo
(adoro a foto)
*
Reparei hoje no "acerca de mim" que já escreves nocturno segundo as regras do famigerado Acordo Ortográfico!Isto é, estamos muito modernos!
Beijinhos
sempre gostaste muito do "peru menor"...!
e pelos vistos as pequenas também...
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