Há algum tempo noto que temos algo. Um pouco que foi crescendo, mas nunca ultrapassando a fasquia do pouco. A convivência banal pouco acrescenta ao pouco existente. E agora não podemos desembaraçarmo-nos do restante. Quero guardá-lo. Fico mais vazio sem ele. Mesmo sendo pouco.
Pode ser que tu prefiras o nada. Nunca te perguntei e não sei qual seria a tua resposta. Não te perguntei porque sempre tive medo da tua resposta. Ficar com menos que pouco é um nada que não quero. Agora que vais embora, o pouco tem todas as razões para permanecer; se fosse muito, o mais provável é que nada restasse pouco tempo depois. Mas o pouco que restou poderá continuar, porque o pouco nunca impede o pouco ou muito que vier.
É pouco, sim, mas é mais do que nada. Se recusares o pouco, ambos ficaremos a perder. Despirmo-nos do pouco que resta neste mundo de nadas seria um desperdício. Algo fica. Pouco, mas muito face à possibilidade do nada.
4 comentários:
Pois, mais vale pouco que nada. E mais vale ter um pouco anorético do que um muito obeso.
Beijo*
Mais vale "um pouco deste que mal me chega", do que uma mão cheia de nada.
Beijo
Não sei... o quase é inimigo do tudo. O título então, deixa-me a pensar que não vale a pena.
O Quase...
O QUE HÁ
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo
Nem se quer de tudo ou de nada
Cansaço assim mesmo, ele mesmo
Cansaço
A subtileza das sensações inúteis
As paixões violentas por coisa nenhuma
Os amores intensos por o suposto em alguém
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço
Este cansaço
Cansaço
Há sem dúvidas quem ame o infinito
Há sem dúvidas quem deseje o impossível
Há sem dúvidas quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles
Porque eu amo infinitamente o finito
Porque eu desejo impossivelmente o possível
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada
Para eles o sonho sonhado ou vivido
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço
Um supremíssimo cansaço
Íssimo, íssimo, íssimo
Cansaço...
(Álvaro de Campos)
Abraço
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