quinta-feira, 12 de junho de 2008

As férias e os livros

Gosto de ler. Um gosto independente do tempo atmosférico ou de qualquer outro tempo suporte do meu. Mas, nas férias ainda gosto mais. Desconheço a razão. Talvez seja da espessura do tempo de lazer, indefinida e tão forte que vive por si, sem necessidade de arreios. É mais silencioso e dormente, avança sem encontrões. Decorre numa direcção vazia de sentido e facilita a distracção do pensamento no meio das letras e a concentração nos dramas.

Mesmo assim, há um tipo de livros mais próximos da natureza das férias, cujo conteúdo é igualmente quente, submisso e com personagens mais definidas. Livros onde a fluência das personagens se desenrola numa intimidade com o tempo do tempo. Como se o carácter das férias exigisse figuras simplificadas, uma escrita simples sem ser simplista, bela sem ser banal. Lembro-me com clareza de muitos Verões pelas leituras feitas, mais pelas leituras do que pelos próprios Verões. Entre outros, Nome da Rosa do Umberto Eco numas escadas alcandoradas em tardes quentes de aldeia, Palmeiras Bravas do Faulkner em tendas efervescentes de vida em Vila Nova de Milfontes, Galindez no México no meio de luas enormes e de uma mar azul e quente, e de três grossos volumes do Ballester lidos numa praia repleta de veleiros azuis, não por pressa de acabar mas porque a própria leitura me obrigou ao aperto. Vai-se andando como num barco a remos e às tantas fica-se tão perto do destino que se avança rápido com a expectativa de finais anunciados.

Há férias que nunca mais acabam, há outras tão pequenas que não chegam a começar. Os livros abertos, esmiuçados, são marcos fortes. Mesmo que não tenham outros, o prazer de terminar um livro que se gostou é razão mais do que suficiente para que as férias tenham a sua própria razão de ser. Ficarão guardadas na memória apenas porque um livro se terminou com o seu balanço.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ler porque se quer ler e não porque se é obrigado. Eu gosto!

E gosto dos livros pesados que me prendem à toalha nas tardes de praia.

Aceito sugestões!

Anónimo disse...

Terei em conta as propostas!


O Principezinho é um livro intemporal! :D

gingerandclove disse...

love reading on the train..airplanes no (too nervous), beaches neither (too relaxed), but trains are perfect - the feeling of extended time, the wheels rumble softly building up a unison with the punctuation of the story:)

and:) here's one of my favourite pieces of writing. and about writing.

http://lib.ru/NABOKOW/Inspiration.txt

xx
ta

Unknown disse...

Vá-se lá saber "quem é quem" nesta dualidade férias-livros, isto é, são as férias que determinam os livros, ou os livros que marcam os dias de lazer?
Mas tb não é importante sabê-lo. A dualidade é que nos compraz.
Venha ela e depressa, que estamos todos a salivar por isso.

Beijinhos e boas férias/bons livros

V. disse...

quero férias e livros... muitos! :p *