sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A Melancolia e a Escrita

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Escrevemos quando estamos tristes. Não com aquela tristeza que nos impede de sair de nós, mas a que procura clareiras, que nos agasalha e nos atira para um longínquo oásis onde o espírito repousa. Ser feliz está sempre a um passo do passado. Nós nunca nos sentimos felizes, apenas podemos sentir que fomos felizes. Assim, o presente está condenado à decepção, ao entediamento, ao problema prático que demora a resolver, à vida mesquinha do dia- a-dia.

Deste modo, enquanto o sofrimento nos amarra ao presente, a melancolia arrasta-nos à procura do devaneio; recusa o presente, encontrando no passado as fantasias não cumpridas. Tristonho é falar da infância, desse mar calmo e transparente que aquece a alma, sulcado depois por regos e abismos em histórias desencantadas. Mas é dela que nascem todas as histórias, transfiguradas pelo que se perdeu e o sonho acrescentou, sob um olhar ternurento mas magoado pela travessia…

Mas também não se escreve quando o espírito vive em frenesim, próprio do entusiasmo de quem julga, erradamente, que no presente realizou o próprio sonho. É o estado de paixão que é tão bloqueador como o sofrimento, que nos reverte de forma constante para nós mesmos, como ostensivo tirano, devorador do passado e do futuro.

A melancolia não. A melancolia conserta o presente, pela esperança reconquistada. Permite a leveza, a busca de outros cenários, revisitando vidas que se esqueceram nas esquinas da história. Se o presente não basta para garantir a quietude procuram-se espaços alternativos, reencontros com personagens que se foram perdendo pelos bolsos rotos do tempo…

2 comentários:

::::: disse...

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.
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Mais um momento de melancolia, mas que aquece a alma.

Anónimo disse...

Mas se olhamos muito para a frente a alma ainda nos fica para trás...