Desenhamos sempre o nosso mundo íntimo através de imagens tão frágeis como pequenos barcos de pesca que balouçam em cais desprotegido. Uma realidade que se vai diversificando e corrigindo perante a abundância de cores e experiências. Sobre a praia, numa esplanada enfeitada por sombreiros coloridos e abrigado de um sol estuporado, contemplo um horizonte ruborizado de corpos, texturas e abrigos. Vida e vidas que se amontoam no mesmo local como se tratasse de um imenso hipermercado onde todos procuram os mesmos condimentos.
Ao longo da costa, pontos fixos, especados no meio de ondas, antecipando actos de bravura, na expectativa de que a espera adormeça o corpo. Alguns movimentam-se, escondem-se na água saindo mais à frente, superando alçapões invisíveis; outros, imersos, com a cabeça de fora, parecem seres de outros mundos em viveiros estrelares. A maioria, inertes como lagartixas gigantes, com a areia moldada às curvas do corpo, apresentam-se como vítimas para o sacrifício. E todos sob um inferno escolhido de livre vontade, patamar para a bem-aventurança.
Novos, velhos, felizes. Em euforia festeja-se a saída do espaço vital e na areia quente descobre-se a libertação do trabalho, dos reveses e das canseiras. Sairão queimados como troncos vítimas de incêndios e transportarão o carimbo de dias passados com o corpo ao léu. Um troféu que resistirá pouco mais do que não tem qualquer importância.
Outros há que ficam pela esplanada, asilados e protegidos do calor que faz fumegar os corpos. Tão brancos como queijos frescos, não cedem aos chamamentos e ultrapassam os dias vestidos e empoleirados em sonhos residuais. Em alguns descobrem-se faces de enfado. Resignados perante o cenário desolador, tentando encontrar um salva-vidas neste mar sem fundo que é um dia de calor abrasador.
Foi escurecendo lentamente. Uma lua tão cheia como uma ervilha gigante deixa antever um mar colossal, calmo, apaziguado com um sedativo qualquer, enquanto à sua beira uns fios brancos se compõem e desfazem. Uma obscuridade crivada de pontos brilhantes, âncoras que transportam o espírito para fora de portas. Mais ao largo, pequenos barcos perdidos, encalhados em asilos sem passagens. Balouçam ao sabor de uma ondulação pautada, como marionetas.
Subimos a ria por entre carcaças de embarcações e barcos encavalitados nas margens secas como cachalotes suicidas. O rasto da lancha é semelhante ao fumo branco de um avião no céu e os passageiros transportam na face sinais de apaziguamento. Nenhum deles deseja o final da jornada sabendo que, após o término do Verão, a vida repetirá passos e destinos. Restará pouco mais do que a nostalgia de uma espuma branca desenhada por um barco na procura um porto.
Ao longo da costa, pontos fixos, especados no meio de ondas, antecipando actos de bravura, na expectativa de que a espera adormeça o corpo. Alguns movimentam-se, escondem-se na água saindo mais à frente, superando alçapões invisíveis; outros, imersos, com a cabeça de fora, parecem seres de outros mundos em viveiros estrelares. A maioria, inertes como lagartixas gigantes, com a areia moldada às curvas do corpo, apresentam-se como vítimas para o sacrifício. E todos sob um inferno escolhido de livre vontade, patamar para a bem-aventurança.
Novos, velhos, felizes. Em euforia festeja-se a saída do espaço vital e na areia quente descobre-se a libertação do trabalho, dos reveses e das canseiras. Sairão queimados como troncos vítimas de incêndios e transportarão o carimbo de dias passados com o corpo ao léu. Um troféu que resistirá pouco mais do que não tem qualquer importância.
Outros há que ficam pela esplanada, asilados e protegidos do calor que faz fumegar os corpos. Tão brancos como queijos frescos, não cedem aos chamamentos e ultrapassam os dias vestidos e empoleirados em sonhos residuais. Em alguns descobrem-se faces de enfado. Resignados perante o cenário desolador, tentando encontrar um salva-vidas neste mar sem fundo que é um dia de calor abrasador.
Foi escurecendo lentamente. Uma lua tão cheia como uma ervilha gigante deixa antever um mar colossal, calmo, apaziguado com um sedativo qualquer, enquanto à sua beira uns fios brancos se compõem e desfazem. Uma obscuridade crivada de pontos brilhantes, âncoras que transportam o espírito para fora de portas. Mais ao largo, pequenos barcos perdidos, encalhados em asilos sem passagens. Balouçam ao sabor de uma ondulação pautada, como marionetas.
Subimos a ria por entre carcaças de embarcações e barcos encavalitados nas margens secas como cachalotes suicidas. O rasto da lancha é semelhante ao fumo branco de um avião no céu e os passageiros transportam na face sinais de apaziguamento. Nenhum deles deseja o final da jornada sabendo que, após o término do Verão, a vida repetirá passos e destinos. Restará pouco mais do que a nostalgia de uma espuma branca desenhada por um barco na procura um porto.
2 comentários:
O mundo é assim: há os que vão para o mar e há os que ficam em terra. Eu cá gostaria de estar na praia, mesmo a apanhar escaldões do que estar já a trabalhar. Obviamente também gosto de uma boa "esplanadazita"!
Muito bom: a forma como conjugas as palavras para descrever os cenários. Lá estou eu a repetir-me ! Tens de ter paciência !
av
that is why i love the early morning sea - sleepy, tranquil and yet uninhabited by the beer-drinking, suncream covered crowd:)
7am is perfect. when the sea-bed is still untouched and rippley :)
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