Gostava tanto de te poder dar mais do que dou. Imaginei-me muito melhor do que sou. Mas nada faço para que os sinais saiam tão dificilmente como uma rolha de uma garrafa. É penoso sentir esta mediocridade de actor que pretende dizer, mostrar, testemunhar afectos que ficam encravados na garganta. Porquê? Porque tenho medo. Medo de ficar desasado, ridículo. Nunca ninguém me ensinou a amar.
Tenho manuais, dramas que posso repetir, tal como num palco. Mas sou péssimo actor e os argumentos são, geralmente, de fraca qualidade. Vejo filmes onde tudo é tão fácil, como se a felicidade resultasse de um simples acto de coragem. Mas não. Andamos todos triturados pelo imaginário e ficamos constrangidos porque o que sai de nós é na maioria das vezes peças de classe B. As culpas obrigam- -nos a actuações sublimes, a gestos magnânimes em datas relevantes, mas tudo não passa de miseráveis comédias.
Então, não me culpes. Culpa a minha vida, o meu desespero, a minha solidão. Estes, sim, são os culpados de não poder oferecer-te o que aguardas com ansiedade. Sou apenas o resultado de experiências, aberração conclusa de um laboratório familiar onde o amor existente era apenas uma réstia de luz que mantinha todos nos mesmo carreiro, nos mesmos fitos. O amor que esperas e que não consigo dar-te é o amor que não tenho, de que sempre senti falta e que procurei por caminhos ínvios. Ninguém dá o que não tem, pois não?
6 comentários:
São 4 da manhã e posso assegurar que, daqui até onde a minha vista alcança, ninguém está à procura de amor. Estão todos atarefados a procurar petróleo. De outro modo nem com amor um destes dias a malta aquece os dedos dos pés.
...ningu�m d� o que n�o tem, � verdade. Ningu�m � perfeito, � verdade. Somos humanos, tamb�m � verdade. Como tal "resta-nos" viver. Resumidamente, para mim viver � uma continua aprendizagem que por sua vez leva a um (re)descobrir de experi�ncias, sensa�es... N�o h� receitas miraculosas. � a capta�o do momento e a intensidade com que se vive, mesmo em pequenas situa�es da vida, que nos eleva nas viv�ncias... que nos leva a obter um proveito muito alto...
av
http://www.youtube.com/watch?v=hE0ODrmaiFE
bj
sorry for the previous one:)
Muito triste esta observação. A maioria vive assim, sei-o hoje. Antes, ainda acreditávamos que tudo era possível, como diz Eugénio de Andrade num dos seus poemas mais conhecidos, "Adeus". Mas isso era de facto no "temps des cerises". Agora, para ajudar à festa da depressão instalada, temos ainda este primeiro-ministro que nos derruba todos os dias só de olharmos para ele! estou mesmo a ficar farta de toda esta gente, escola incluída.
O melhor é irmos todos adorar o deus Apolo durante uns dias, pode ser que ele nos conceda algumas migalhas da sua superioridade e que assim mitigue a nossa dor.
Bjs
P.S. Também podemos reler o nosso Eça, que nunca foi mais actual, do ponto de vista do sarcasmo com que fala dos políticos...
a foto é linda ... de quem é ?
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