sábado, 19 de julho de 2008

O calor e Nostradamus


Ando como um coelho bravo em céu aberto. Assustado. Valha a verdade, sempre fui assustadiço, mas agora parece pender sobre mim não a espada de Dâmocles, mas as armas de um exército inteiro. Não tenho motivos fortes, conscientes, mas, como diz Bukowski no livro “A Sul de Nenhum Norte“, toda a gente anda sempre num sofrimento constante, mesmo os que fingem que não”. A angústia é intrínseca à humanidade, ao sermos paridos contra o nosso próprio desejo, e depois no esforço constante de levar a vida para diante, abrigados em objectivos, metas e delírios…

Mas uma razão deste estado de espírito é o calor corrente. O calor deprime-me. Gosto do sol de Inverno, daquele que nos afaga. O sol de Verão queima, verga-nos, persegue-nos estrada fora, e quando chegamos a casa mantém-se à espreita como um assassino sorrateiro. Mesmo à noite, sinto-o lá fora, irritantemente presente. Venenoso.

Dizem que vai ser o Verão mais quente dos últimos trinta anos e receio que as piores profecias sobre o estado do clima se convertam em realidade. Os gelos árcticos se desfaçam e o mar se estenda uns bons metros acima do actual nível. Comprei uma casa alta para não acordar com água salgada à cabeceira, mas por este andar não tenho a certeza se o décimo andar será suficiente! Conheço pessoas que, devido aos alertas e mesmo vivendo em prédios compridos como o meu, guardam com desvelo canoas insufláveis que se enchem com a pressão da boca ou com bombas das bicicletas. A minha loucura ainda não chegou a este nível mas para lá caminho…

Tenho um amigo que faz previsões catastrofistas há vinte anos. Julga sempre o tempo presente como a recusa da felicidade e o futuro como um nada que não nos espera. Mas quando o sol aperta e o preço do petróleo dispara, para gáudio dos donos dos desertos, ele tira da cartola os piores augúrios referentes a esta sociedade materialista, corrupta e sem destino. Prevê, tal como um novo Nostradamus, o alastramento da fome às sociedades ocidentais, anarquia social pela falta de empregos para os filhos da classe média, trezentos dólares o barril do petróleo, e outros maus agoiros. Sempre o auscultei com aquele desconto que se dá aos profetas da nossa própria terra, tentando dosear as piores notícias com mensagens de confiança na natureza humana, pois já não gostamos de ver pessoas torturadas em praças públicas, tal como acontecia há menos de duzentos anos. Mas ele garante que isso é um pormenor sem qualquer relevância e continuamos a ter prazer em olhar pela televisão espectáculos bem mais cruéis e bárbaros. Tudo, segundo ele, converge para uma depressão colectiva que nos obriga, não a comer que está tudo caro, mas a tomar ansiolíticos e anti-depressivos.

E depois este sol que deixa queimaduras do tamanho do corpo e à noite não permite dormir e ganhar forças para a canícula do dia seguinte. Amanhã vou sair de casa camuflado para que ele não me reconheça.

5 comentários:

Anónimo disse...

Tenho um colega de trabalho que à 2ª Feira de manhã, quando estão todos de mau humor e com cara de poucos amigos, diz com o maior ar de felicidade: "...bom fim de semana!!!" e vai repetindo infinitamente esta expressão até à 6ª Feira à tarde. Noutras alturas diz: "nã penses mais nisso! tameim se não fosse assim teria de ser doutra manêra e se nã puder ser doutra manêra terá de ser assim!..."
Penso que será o melhor estado de espirito para enfrentar as coisas, nã será, compadri!!!
av

Anónimo disse...

Os profetas não são bons nem com molho de tomate!

Quanto ao Verão, gosto dele. Sou alérgica ao frio do Inverno, e à chuva, e às camadas de roupa que nos fazem parecer cebolas, ou chouriços!
No Verão, temos as férias, temos a praia, pulamos como os coelhos bravos, lá está! Uns mais aparvalhados que outros, mas somos livres! Eu lido bem com o calor extremo, nem desgosto dele, e quem se queixar... Há leques e ventoínhas!

Beijo

Anónimo disse...

Esses profetas são uns tontos. Isto nunca esteve tão bom. Está pelo menos como nós merecemos. Todos os dias está mais como nós merecemos.

Teresa

FLY disse...

O calor divide-me. Tem tudo a ver com a roupa. Se por um lado detesto as camisas colada ao meu corpo, reconheço que o mundo fica claramente mais bonito porque elas usam menos roupa ou porque a mesma se lhes cola ao corpo...

Hei? Almoço esta semana?
Maria, sim?

Abraço

ilhéu disse...

por mim está óptimo. é só marcar e nem durmo de tanta emoção. Abraço