Existem pessoas que alimentam tanto as desgraças delas e dos outros que, pelo desespero que se vislumbra nos seus olhos e no ácido e vinagre nas palavras envolvidas, perde-se a esperança na raça humana, na bondade das coisas e no entusiasmo da vida. Têm o condão de tornar tão negro o presente que o futuro só poderá surgir envolto em infortúnio.
Na sua companhia ficamos nervosos e pessimistas. Optimistas são os amigos. Estes dão força, não alimentam tragédias, não inventam cenários de horror. Recuperam-nos o ânimo, respondem "presente" sempre que a vida nos prega partidas. Mesmo que o seu optimismo coincida com a confissão honesta de que estamos tramados e na urgência de levantarmos a cabeça no meio do naufrágio. Sem amigos a vida seria um deserto.
Mas a amizade e o amor são faces da mesma moeda, interpenetram-se, convivem, reconhecem-se nas suas dimensões. Apenas por dificuldades semânticas temos necessidade de os distinguir por temor de se ultrapassarem fronteiras físicas. Amigos são necessariamente poucos. Não temos um coração que comporte muitos quartos e obrigamo-nos à contenção do número. Podemos relacionar-nos com muitos simpáticos, alguns simpáticos especiais, mas na altura certa reconhecemos com a absoluta certeza aqueles que estão à nossa espera, pacientes, incapazes de nos culpar dos silêncios e dos afastamentos, sempre com disponibilidade para nos ouvir. Ter amigos é uma benção.
Há aqueles que são incapazes de ter amigos, da mesma maneira que são incapazes de amar. Transformam inevitavelmente os outros em instrumentos que utilizam ao seu serviço. Se estou mal disposto, então está ali um fulano que sabe umas anedotas engraçadas... Se estou desesperado então aquele atura-me as neuras... Se estou sozinho, ali está alguém disponível para ir ao cinema. E por aí adiante. Pelo contrário, amar e ser amigo é sair de si mesmo, soltar-se da carapaça do egoísmo, entrar na esfera do outro e torná-lo parte dele. Pelo processo passamos a ser dois, três, quatro ou mais, conforme as capacidades do coração e a nossa disposição em nos desmembrarmos. Mas em excesso esvaziamo-nos e ficamos sem alma, retaliando no futuro com afastamentos premeditados. Todavia, tal como a sábia raposa, depois de cativarmos alguém ficamos responsável por ele. O amor exige resposta pronta. E quem não responde por um amigo?! Ter amigos é uma sorte.
Lá estão, quietos, cúmplices nos silêncios, a vibrar nas nossas vitórias, a partilhar os nossos maus momentos, mantendo-se ao longe, serenos na expectativa. Nada exigem. Reconhecem que o nosso afastamento não significa desprezo por eles ou insignificância do afecto. Apenas reclamam a fidelidade de mantermos limpa a estrada que nos transporta até eles, bem como de estratégias para contornar obstáculos que caiam no asfalto. Pela chama viva da saudade. O resto é insignificante. Mesmo a simpatia não é essencial. Os verdadeiros amigos, frequentemente, têm de falar alto, serem desagradáveis nas conclusões, pouco polidos na forma de as afirmar, honestos na apreciação dos factos, sinceros nas consequências. O amigo não é aquele que dá sempre palmadinhas nas costas, que favorece nas análises. O amigo é muitas vezes o advogado do diabo, o carrasco da consciência, o inimigo da boa consciência. Conhece-nos, não nos autoriza rodeios ou lágrimas de crocodilo. Só ele nos dá a liberdade de sermos verdadeiros e por isso só ele nos permite as desilusões, as machadadas no orgulho, sem desculpas esfarrapadas e sem máscaras sociais.
A amizade é eterna. Mesmo quando finda. Ao afirmarmos o amor por alguém, não o imaginamos pequeno como uma década ou minúsculo como um ano. Orgulhosos, declaramo-lo vigoroso para sempre, convictos da força que lhe permitirá ultrapassar o próprio tempo. O amor tem infinitas capacidades de resistência, à distância, à maledicência, à falta de reciprocidade, ao desgaste. Só não resiste à infidelidade ao próprio amor, à negação explícita da sua verdade.
O amor e amizade não partilham do ciúme. O amor é confiança, não é desespero. O amor é partilha não é propriedade. O amor é comunhão não é uma gaiola. O amor é descoberta não é uma exposição de loja de presentes. O amor não é exclusivo, permite outros horizontes além dele mesmo... Ser amigo é deixar partir o amigo! Não é culpá-lo da solidão porque quem ama não está só. É deixá-lo crescer, desculpá-lo das viagens, permitir-lhe fazer a vida ausente de nós. O amor é calmaria, mesmo no alto da discussão reproduz descanso. Segurança.
Quem ama tem sempre medo de perder. Por um lado, pelo medo de perder o outro; também pelo perigo de se perder a si mesmo, dissolvendo-se nele. O medo de não ser capaz de respirar e ficar sem vida própria. É o temor de se perder ele próprio se a solidão vier. Ficar sem rumo e sem destino... Se isso acontecer, a desilusão corrói a vida como a ferrugem destroi a chapa. Não há outra forma senão o procurarmos de novo. Como é generoso mantém-se na linha do horizonte, encostado a um tronco de uma árvore, tranquilo, esperando os que não perdem tempo a procurá-lo no ruído e na vertigem. O amor encontra-se no silêncio. Encontra-se na quietude de nós mesmos.
Na sua companhia ficamos nervosos e pessimistas. Optimistas são os amigos. Estes dão força, não alimentam tragédias, não inventam cenários de horror. Recuperam-nos o ânimo, respondem "presente" sempre que a vida nos prega partidas. Mesmo que o seu optimismo coincida com a confissão honesta de que estamos tramados e na urgência de levantarmos a cabeça no meio do naufrágio. Sem amigos a vida seria um deserto.
Mas a amizade e o amor são faces da mesma moeda, interpenetram-se, convivem, reconhecem-se nas suas dimensões. Apenas por dificuldades semânticas temos necessidade de os distinguir por temor de se ultrapassarem fronteiras físicas. Amigos são necessariamente poucos. Não temos um coração que comporte muitos quartos e obrigamo-nos à contenção do número. Podemos relacionar-nos com muitos simpáticos, alguns simpáticos especiais, mas na altura certa reconhecemos com a absoluta certeza aqueles que estão à nossa espera, pacientes, incapazes de nos culpar dos silêncios e dos afastamentos, sempre com disponibilidade para nos ouvir. Ter amigos é uma benção.
Há aqueles que são incapazes de ter amigos, da mesma maneira que são incapazes de amar. Transformam inevitavelmente os outros em instrumentos que utilizam ao seu serviço. Se estou mal disposto, então está ali um fulano que sabe umas anedotas engraçadas... Se estou desesperado então aquele atura-me as neuras... Se estou sozinho, ali está alguém disponível para ir ao cinema. E por aí adiante. Pelo contrário, amar e ser amigo é sair de si mesmo, soltar-se da carapaça do egoísmo, entrar na esfera do outro e torná-lo parte dele. Pelo processo passamos a ser dois, três, quatro ou mais, conforme as capacidades do coração e a nossa disposição em nos desmembrarmos. Mas em excesso esvaziamo-nos e ficamos sem alma, retaliando no futuro com afastamentos premeditados. Todavia, tal como a sábia raposa, depois de cativarmos alguém ficamos responsável por ele. O amor exige resposta pronta. E quem não responde por um amigo?! Ter amigos é uma sorte.
Lá estão, quietos, cúmplices nos silêncios, a vibrar nas nossas vitórias, a partilhar os nossos maus momentos, mantendo-se ao longe, serenos na expectativa. Nada exigem. Reconhecem que o nosso afastamento não significa desprezo por eles ou insignificância do afecto. Apenas reclamam a fidelidade de mantermos limpa a estrada que nos transporta até eles, bem como de estratégias para contornar obstáculos que caiam no asfalto. Pela chama viva da saudade. O resto é insignificante. Mesmo a simpatia não é essencial. Os verdadeiros amigos, frequentemente, têm de falar alto, serem desagradáveis nas conclusões, pouco polidos na forma de as afirmar, honestos na apreciação dos factos, sinceros nas consequências. O amigo não é aquele que dá sempre palmadinhas nas costas, que favorece nas análises. O amigo é muitas vezes o advogado do diabo, o carrasco da consciência, o inimigo da boa consciência. Conhece-nos, não nos autoriza rodeios ou lágrimas de crocodilo. Só ele nos dá a liberdade de sermos verdadeiros e por isso só ele nos permite as desilusões, as machadadas no orgulho, sem desculpas esfarrapadas e sem máscaras sociais.
A amizade é eterna. Mesmo quando finda. Ao afirmarmos o amor por alguém, não o imaginamos pequeno como uma década ou minúsculo como um ano. Orgulhosos, declaramo-lo vigoroso para sempre, convictos da força que lhe permitirá ultrapassar o próprio tempo. O amor tem infinitas capacidades de resistência, à distância, à maledicência, à falta de reciprocidade, ao desgaste. Só não resiste à infidelidade ao próprio amor, à negação explícita da sua verdade.
O amor e amizade não partilham do ciúme. O amor é confiança, não é desespero. O amor é partilha não é propriedade. O amor é comunhão não é uma gaiola. O amor é descoberta não é uma exposição de loja de presentes. O amor não é exclusivo, permite outros horizontes além dele mesmo... Ser amigo é deixar partir o amigo! Não é culpá-lo da solidão porque quem ama não está só. É deixá-lo crescer, desculpá-lo das viagens, permitir-lhe fazer a vida ausente de nós. O amor é calmaria, mesmo no alto da discussão reproduz descanso. Segurança.
Quem ama tem sempre medo de perder. Por um lado, pelo medo de perder o outro; também pelo perigo de se perder a si mesmo, dissolvendo-se nele. O medo de não ser capaz de respirar e ficar sem vida própria. É o temor de se perder ele próprio se a solidão vier. Ficar sem rumo e sem destino... Se isso acontecer, a desilusão corrói a vida como a ferrugem destroi a chapa. Não há outra forma senão o procurarmos de novo. Como é generoso mantém-se na linha do horizonte, encostado a um tronco de uma árvore, tranquilo, esperando os que não perdem tempo a procurá-lo no ruído e na vertigem. O amor encontra-se no silêncio. Encontra-se na quietude de nós mesmos.
3 comentários:
Estava a surfar na net, quando por curiosidade me surgiu o seu blog. Subscrevo o seu texto e admiro a forma como o exp�e, sobretudo um tema t�o "simples" como este. Penso, contudo, que pode acrescentar que na amizade verdadeira, que para mim abarca amor, temos de ter sempre uma vis�o din�mica. Esta vis�o ter� de ter sempre presente uma aprendizagem constante entre as pessoas envolvidas, tamb�m uma (re)descoberta um do outro. Sobretudo n�o ter medo de errar, sob pena de estagnar a rela�o com o consequente definhar da mesma. O preconceito n�o existe. O preconceito limita. Na minha experi�ncia de vida estou sempre a aprender e tem sido muitas vezes o erro e todo o processo de desmont�-lo e emend�-lo que tem trazido um aumento de profundidade e intensidade nos meus relacionamentos. Este processo projecta a amizade para uma genuinidade e um aumento de cativa�o, levando a que n�o exista nada que a abale. Este � o meu lema. E quando estiver no meu leito da morte recordar-me-ei das amizades que tive na viagem da minha vida com uma energia� IMORTAL. Em resumo, era s� isto que eu queria acrescentar. Perdoe-me a intromiss�o, AMIGO.
Existem pessoas que alimentam tanto as desgraças delas e dos outros que, pelo desespero que se vislumbra nos seus olhos e no ácido e vinagre nas palavras envolvidas, perde-se a esperança na raça humana, na bondade das coisas e no entusiasmo da vida. Têm o condão de tornar tão negro o presente que o futuro só poderá surgir envolto em infortúnio.
O amor e amizade não partilham do ciúme. O amor é confiança, não é desespero. O amor é partilha não é propriedade. O amor é comunhão não é uma gaiola. O amor é descoberta não é uma exposição de loja de presentes. O amor não é exclusivo, permite outros horizontes além dele mesmo... Ser amigo é deixar partir o amigo! Não é culpá-lo da solidão porque quem ama não está só. É deixá-lo crescer, desculpá-lo das viagens, permitir-lhe fazer a vida ausente de nós. O amor é calmaria, mesmo no alto da discussão reproduz descanso. Segurança.
quis subscrever o texto todo, mas fico-me por estes dois parágrafos. aquilo que muitas vezes se pensa e não se diz. parabéns. tens o dom da palavra. assim, torna-se fácil de entender, de facto... :)
could i use your wonderful blog as a manual for learning Portuguese:)?
thankyou:)
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